Enfim descansar...

Hoje acordei com a mesma sensação de todos os dias, por mais que eu dormisse estava sempre cansado e não via graça nenhuma na vida.
Tomei um banho, e enquanto a água quente caia sobre mim pensava no que deveria fazer durante o dia: trabalhar em um emprego fudido, suportar um chefe idiota e só, durante alguns anos minha vida vinha se resumindo a isso, nada de amigos, nada de família, apenas um trabalho fudido. Mas hoje tinha vontade de fazer alguma coisa a mais, não sabia bem o que era, apenas tinha vontade.

Logo após o banho olhei-me no espelho e dessa vez não vi apenas o meu rosto como de costume, junto com ele vi um homem não tão jovem com um passado vazio, meu rosto estava sofrendo os efeitos do tempo, e a barba por fazer me fazia parecer ainda mais velho. Terminei de me aprontar e fui trabalhar. Trabalho como repositor de mercadorias em um sacolão, meu serviço se resume a encher as prateleiras de mercadorias novas e jogar fora os produtos já estragados. Hoje as horas demoraram a passar, e enquanto trabalhava pensava que se meus pais estivessem me vendo eles teriam vergonha dos rumos que minha vida tomou, coitados, sempre se esforçaram pra que eu pudesse ser alguém na vida e olha só o que me tornei. Espero que a vida no além seja gratificante para eles.

Quando voltei pra casa, peguei uma cerveja na minha geladeira velha, nem sei como aquilo ainda funcionava, minha cerveja era o único luxo que me era permitido, e enquanto esquentava uma gororoba com os restos que tinha na geladeira, um pensamento me veio à cabeça e eu já sabia o que iria fazer hoje. Mas antes terminei de beber e comer, queria estar de estômago cheio quando chegasse a hora. Peguei um lençol velho amarrei no ponto mais alto do barraco, subi em uma cadeira e amarrei a outra ponta no meu pescoço.

Enquanto me preparava para dar cabo à minha vida, minhas memórias passaram pela minha mente, pensei nos meus pais, lembrei da minha infância, dos tempos da escola, da cidade onde morei, e me lembrei também das escolhas que me fizeram chegar a tal ponto.
Mas não havia mais tempo para nostalgia, era hora de acabar com tudo, de finalmente me livrar do meu cansaço.

Com o lençol amarrado no meu pescoço cheguei até a beirada da cadeira, já podia sentir meu pescoço sendo apertado, e quando ia saltar, recuei, me livrei do lençol e fui dormir.
Sempre fui um covarde mesmo, não era agora que iria ter coragem para algo desse tipo.